A demência é uma das maiores problemáticas no que toca à saúde do nosso tempo. Atinge milhões de pessoas em todo o Mundo e este número está em constante crescimento. Para além das consequências óbvias desta incidência, como o declínio da qualidade de vida e o aumento da dependência, surgem complicações que afectam o quotidiano das famílias, nomeadamente a segurança dos doentes. Mas antes vejamos como a demência actua sobre uma pessoa.
Numa demência leve, facilmente as pessoas se esquecem do sítio onde colocaram as coisas ou assimilar informação transmitida recentemente – podemos rever aqui situações como não saber onde deixaram as chaves de casa ou esquecer-se do recado que acabaram de receber. Num estado intermédio, a demência moderada leva a que os doentes percam a capacidade de viver de forma independente, pois a alteração da memória já passa por não saberem quem são e esquecerem-se rapidamente do que acabaram de fazer (surgem nesta fase situações como deixar o fogão ligado ou perder-se na vizinhança, não sabendo regressar a casa). Por último, num estado mais avançado, a demência provoca a perda total ou praticamente total da memória, não sendo o doente capaz de se reconhecer a si nem a familiares ou amigos.
Posto isto, é-nos mais fácil perceber como é que a segurança dos doentes ficam completamente em risco, principalmente com a evolução da doença. Torna-se então imperativo tratar de preparar o meio em que as pessoas se inserem, com vista a mantê-los seguros dentro da sua própria casa. No artigo de hoje vamos saber mais sobre como tornar uma casa mais segura, através de pequenos detalhes do dia-a-dia que farão toda a diferença!
Um dos principais sintomas da demência é precisamente a deambulação constante. O doente caminha aparentemente sem sentido e isso pode dever-se a antigas rotinas ou até à própria profissão que exerceram durante toda a vida. Por norma, os cuidadores mais preocupados afligem-se com esta actividade, pois têm medo que o doente se magoe ou caia. Mas também não vale a pena entrar em choque com a pessoa, pois pode provocar ainda mais confusão na sua cabeça. Assim sendo, sugerimos que tente estabelecer um diálogo com o doente, questionando-o para onde quer ir, o que quer fazer ou o que procura. Ao obrigá-lo a responder, estará a distraí-lo e pode encaminhá-lo de forma cuidada para outro sítio, tirando-lhe o sentido de sair de casa. No entanto, prepare-se para não ser sempre bem sucedido nesta batalha! Quando isto acontecer, vá até à rua com ele, converse um pouco sobre o que observam lá fora e lentamente traga-o para dentro de casa novamente.
Como numa primeira fase, e apesar de conseguirem suprimir as suas necessidades sozinhos, podem esquecer-se para onde vão quando precisam de ir à casa de banho (ou podem não reconhecer o caminho, perdendo-se), acompanhe-os até lá. Mas atenção que muitas vezes este tipo de ajuda pode não ser bem recebido, por isso tenha destreza e cuidado na maneira como lhes toca e lhes fala, de modo a não se impor e a conseguir ser uma ajuda útil, sem criar ansiedade ou stresse. Fale de forma descontraída, pode até conversar sobre outro assunto qualquer enquanto o encaminha até ao destino pretendido.
Um dos motivos que pode levar um doente com demência a deambular é a acumulação de energia. Uma vez que se tornam mais dependentes, a sua actividade física diminui e toda aquela energia que era gasta durante o dia passa a acumular-se no corpo, sendo cada vez mais difícil estar muito tempo parado – mesmo que, conscientemente, não tenha um propósito para caminhar. É importante estimulá-los do ponto de vista físico, por isso tire partido da vontade de caminhar e crie um espaço seguro onde o doente o possa fazer sem perigos iminentes. Com bom tempo, o jardim é uma excelente opção, pois faz com que apanhem ar puro e algum sol que traz vários benefícios ao seu bem-estar, além da exposição a estímulos diferentes dos que encontra dentro de casa.
Como já vimos anteriormente, é muito comum que pessoas com demência se esqueçam facilmente do sítio onde deixaram objectos acabados de utilizar. Isto serve para qualquer coisa: talheres, chaves, telefones sem fios, comandos da televisão… Ainda assim, uns são mais chatos de estarem perdidos do que outros, como é o exemplo das chaves de casa. Para evitar nervosismos de última hora quando queremos sair de casa e não sabemos onde estão as chaves, guarde-as num sítio inacessível ao doente. Vistas bem as coisas, ele não irá precisar delas, pois não irá sair sozinho.
As rotinas são super importantes para estes doentes, assim como a não alteração abrupta de algum momento que esteja a viver, por isso (se tiver essa possibilidade na casa onde o doente habita) opte por ter uma divisão ampla onde possa ter uma zona de refeição, uma de descanso e outra de actividades de estimulação. Desta maneira, será mais fácil para a pessoa realizar várias actividades sem que para isso tenha que estar sempre a mudar de assoalhada. Este pequeno pormenor fará com que o doente se sinta mais seguro e confortável e consequentemente menos ansioso e confuso.
O alarme é uma excelente opção, pois se já uma pessoa saudável pode ser facilmente assaltada, uma pessoa com demência aumenta imenso a sua vulnerabilidade. Se tem familiares com demência e que vivem sozinhos, pondere de imediato a instalação de um alarme ligado à esquadra mais próxima, para que o seu familiar tenha uma resposta mais rápida em caso de assalto. Sugerimos também a instalação de detectores de fumo, pois mesmo que tenhamos todo o cuidado do Mundo para manter fora do alcance do doente isqueiros ou outras fontes de ignição, este é um acidente que pode acontecer e será melhor prevenir do que remediar.